quarta-feira, 21 de novembro de 2018

SAUDAÇÕES DE ENCERRAMENTO Capítulo 4:7-18


SAUDAÇÕES DE ENCERRAMENTO
Capítulo 4:7-18

As saudações finais que Paulo anexa ao corpo da epístola apresentam um belo quadro da graça, da bondade e do interesse mútuo que existirá no círculo Cristão quando os santos estiverem se movendo de acordo com a verdade do Mistério. Eles ilustram as condições felizes de comunhão entre os santos no corpo de Cristo enquanto eles se movem juntos. Várias pessoas são mencionadas por vários motivos:
Vs. 7-8 – “Tíquico” (At 20:4; Ef 6:21; 2 Tm 4:12; Tt 3:12) é mencionado primeiro. Foi ele quem levou a epístola aos colossenses. Epafras poderia ter sido escolhido para fazer isso, sendo que ele era colossense, mas como ele foi encarcerado com Paulo (Fm 23), não foi possível. Tíquico também deveria trazer as notícias pessoais sobre o “estado” de Paulo em Roma. Ao mencionar isso, vemos que Paulo sabia que os santos colossenses estariam interessados em seu bem-estar pessoal, mesmo que não tivessem visto o rosto dele antes (cap. 2:1). Isso é Cristianismo normal.
Não se fala muito de Tíquico nas Escrituras, a não ser o que lemos nesta passagem. Paulo fala de três coisas dele aqui. Ele era “um irmão amado”. Ele era “um ministro fiel”, e ele era “um companheiro no Senhor”. Ter amor e fidelidade combinados em uma pessoa é uma combinação rara. É um equilíbrio ideal. Muitas vezes, quando os homens procuram ser fiéis, são inconscientemente severos e rude. Eles tendem a manifestar pouca preocupação com a paz de espírito dos santos. Por outro lado, aqueles que são distinguidos pelo amor podem ser corteses à custa da fidelidade. Nenhum desses extremos caracterizou Tíquico; seu amor não impediu sua fidelidade. Paulo acrescenta: “para que saiba do vosso estado e console os vossos corações”. Isso não é se intrometer nos assuntos alheios, mas a mostra de um genuíno cuidado e preocupação pelos irmãos. Isso mostra como o amor Cristão se deleita em participar.
V. 9 – “Onésimo” foi um escravo que roubou seu senhor e fugiu. De alguma forma ele cruzou caminhos com Paulo e a graça de Deus operou em seu coração e ele foi salvo. (Veja na epístola de Paulo a Filemom a história toda.) Ele era agora um “fiel e amado irmão” (TB) e deveria ir com Tíquico a Colossos com a carta a Filemom. Fidelidade e amor pelas quais ele foi distinguido são as mesmas duas coisas que foram ditas de Tíquico. No entanto, nada é dito indicando que ele tenha ministrado a Palavra, como foi o caso de Tíquico. Isto é provavelmente porque ele ainda era muito jovem na fé.
V. 10 – Os próximos três homens foram convertidos do judaísmo – “a circuncisão” (v. 11). Eles pediram que Paulo enviasse suas saudações aos colossenses. O primeiro deles foi “Aristarco”. Ele era um “macedônio de Tessalônica”, que veio a Roma com Paulo na viagem memorável que sofreu naufrágio em Melita (At 27:2). A julgar pelo seu nome, ele provavelmente era um prosélito gentio do judaísmo, mas tendo acreditado no evangelho, ele havia se convertido ao Cristianismo. Como Tíquico, Aristarco tinha acompanhado Paulo em sua terceira viagem missionária (At 19:29, 20:4) e foi usado pelo Senhor na pregação e ensino (Fm 24). Em algum momento, ele havia sido preso e encarcerado com Paulo. Assim, Paulo o chama de “meu companheiro de prisão” (TB).
“Marcos” (João Marcos – At 12:12), que era “sobrinho de Barnabé”, também enviou suas saudações. Doze anos antes, ele havia se “apartado” de Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária (At 13:13; 15:38), mas tendo recuperado a confiança do apóstolo, estava mais uma vez servindo com ele. Note que Marcos não é dito ser um ministro fiel como eram Tíquico, Onésimo e Epafras. Supomos que isso aconteceu porque ele falhou em seu serviço com eles e desertou os apóstolos em Perge. Já que os santos em Colossos provavelmente sabiam do falha de Marcos, Paulo queria que eles soubessem que ele havia recuperado a confiança dos irmãos e mais uma vez foi “muito útil” no ministério (2 Tm 4:11). Assim, Paulo recomendou-o aos colossenses para que o recebessem, se ele fosse para eles. Apesar de ser um servo que havia falhado, Marcos foi levado mais tarde a escrever o segundo evangelho que retrata o Senhor como o Servo perfeito. Os “mandamentos [instruções – TB]” aos quais Paulo se refere são os decretos apostólicos que foram dados aos crentes gentios (At 15:20, 29; 16:4, 21:25).
V. 11 – “Jesus, chamado Justo” também enviou suas saudações. Os santos o chamavam de “Justo” em vez de Jesus, porque eles evidentemente acreditavam que o nome de “Jesus” – que é o “nome que é sobre todo o nome” (Fp 2:9) – deveria ser reservado para só o Senhor. Este verso levou os irmãos a encorajar aqueles que receberam o nome Jesus por nascimento a mudarem seu nome por outro quando eles são salvos.
Os irmãos citados acima eram uma verdadeira “consolação” para Paulo. A palavra grega traduzida como “consolação” aqui não é encontrada em nenhum outro lugar nas Escrituras. Isso mostra que Paulo sentiu a perda de sua liberdade e realmente sentiu falta da comunhão que ele havia desfrutado entre os irmãos.
Vs. 12-13 – Paulo então envia saudações de três crentes gentios que estavam com ele em Roma. O primeiro deles é “Epafras”, que era colossense (“que é dos vossos”). Paulo chama especial atenção para o fervor desse homem na oração. Ele era um ministro capacitado da Palavra (cap. 1:7), e em geral acredita-se que foi por meio de seus trabalhos que a assembleia colossense foi formada. Mas parece que seu maior ministério foi o da oração. Ao estar em cativeiro com Paulo, ele foi separado de seus irmãos locais, mas trabalhou em oração pela causa deles. Como mencionado em nossas observações no capítulo 1:9, talvez o maior serviço que podemos fazer pelos santos seja orar por eles.
Vemos do modo como Paulo fala da oração aqui que definitivamente há um conflito espiritual envolvido. Ele diz que Epafras estava “combatendo sempre [seriamente – JND] por vós em orações”. Na margem da KJV diz “esforçando”. (Veja também o capítulo 1:29-2:1 e Lc 22:44 na Tradução JND). Há espíritos malignos “nos lugares celestiais” – a esfera da atividade espiritual – (Ef 6:12) que trabalham para impedir as orações dos santos (Dn 10:12-13). É por isso que precisamos perseverar na oração (v. 2).
Epafras cuidou dos colossenses com “grande zelo”. Assim, ele tinha o coração de um pastor. O grande objetivo em suas orações era que os santos em Colossos fossem “perfeitos e completos em toda a vontade de Deus” (JND). Isto se refere aos santos sendo estabelecidos na verdade do Mistério. Paulo orou para esse fim também (cap. 1:9). É triste dizer que, apesar das orações e trabalhos de Paulo e Epafras e outros, os santos colossenses nunca alcançaram este objetivo. Em quatro ou cinco anos, esses mesmos santos da província da Ásia se afastaram de Paulo e de sua doutrina (2 Tm 1:15). Eles não se afastaram do Senhor. Eles permaneceram Cristãos, pois desistir de sua confissão de serem crentes no Senhor Jesus Cristo seria apostasia; isso nenhum Cristão verdadeiro fará. Mas eles não queriam mais ser identificados com os ensinamentos de Paulo por causa da reprovação e da perseguição relacionadas a ele (2 Tm 1:8, 16-18).
O zelo e cuidado de Epafras não era apenas para seus irmãos locais em Colossos, mas também para “os que estão em Laodiceia (a 15 quilômetros de Colossos) e os de Hierápolis (a 19 quilômetros de Colossos). Ele sabia que a má doutrina “alastrará como gangrena” (2 Tm 2:17 – AIBB), e essas assembleias vizinhas também estariam sob o perigo do ensino místico.
V. 14 - “Lucas, o médico amado”, também enviou suas saudações. Aparentemente, ele permaneceu com Paulo até o final da vida de Paulo (2 Tm 4:11).
“Demas” cumprimentou-os também. Mas nem uma palavra é dita sobre ele. Paulo não diz que ele foi amado ou fiel, como ele afirma dos outros. Isso nos faz pensar se ele estava se afastando em sua alma, e Paulo não tinha nada louvável a dizer dele. Paulo fala de Demas da mesma forma em sua epístola a Filemon que acompanhava essa epístola (Fm 24). Tudo o que sabemos é que, da próxima vez que lemos sobre ele, Paulo diz: “Demas me desamparou [abandonou – JND], amando o presente século” (2 Tm 4:10). Paulo não diz que Demas foi para o “presente século mau, uma expressão usada em sua epístola aos gálatas (Gl 1:4). Isso não significa que Demas saiu e se tornou um devasso, mas que ele adotou uma forma mundana na sua interpretação dos princípios Cristãos, e isso o levou a seguir um caminho diferente daquele que Paulo percorreu.
Vs. 15-16 – Paulo desejou que os colossenses passassem suas saudações à assembleia em Laodiceia, uma vez que eles estavam próximos – e especialmente a Ninfas que tinham as reuniões da assembleia em sua casa. Ele também queria que esta epístola fosse lida pela assembleia de Laodiceia depois de ter sido lida pelos colossenses. E vice-versa, ele desejava que a carta “que veio de Laodicéia” fosse lida entre os colossenses porque a substância das duas cartas era complementar. Por essa razão, muitos instrutores bíblicos acreditam que a epístola que veio de Laodicéia era a epístola de Paulo aos Efésios. Mas por que eles teriam a carta para os efésios? F.G. Patterson e outros explicaram que desde que a epístola aos Efésios não foi dirigida à assembleia em si, mas sim aos “santos” naquela área, era uma carta circular que deveria ser passada adiante – embora J. N. Darby observe que não há muita base para apoiar a ideia. (Veja a nota de rodapé[1] em sua Tradução de Efésios 1:1) Se os laodicenses tivessem prestado atenção à verdade da epístola aos colossenses, ela os teria preservado do desmoronamento espiritual naquela assembleia (Ap 3:14-21). Eles se degeneraram a um estado tão baixo que, em vez de reterem a Cabeça da Igreja, eles O deixaram do lado de fora de sua porta!
V. 17 – Antes de terminar a epístola, Paulo dá uma palavra de encorajamento para “Arquipo”. Ele disse: “Atenta para o ministério que recebeste no Senhor: para que o cumpras”. Supõe-se que Arquipo era filho de Filemom e Afia já que é mencionado junto com eles em sua casa (Fm 1-2). Parece que Arquipo era negligente em relação à obra que o Senhor lhe havia dado a fazer e que ele precisava dessa palavra de encorajamento. Hoje há muitos homens com dons e capazes na profissão Cristã que precisam dessa mesma exortação. Em vez de usarem seu dom, eles estão dando atenção às coisas terrenas e mundanas. Arquipo pode ter se cansado e acabou ficando desanimado. De qualquer forma, se o Senhor nos deu algo para fazer por Ele, devemos nos alegrar em fazê-lo (Gl 6:9; 1 Co 15:58). O Senhor nos deu algum trabalho para fazer por Ele? Então vamos “atentar” para fazer isso.
V. 18 – Paulo encerra a epístola, acrescentando: “Saudação de minha mão, de Paulo” Este era um costume seu, uma vez que havia homens que tinham forjado uma carta afirmando que era dele (2 Ts 2:2). Assinar a epístola por sua própria mão deu-lhe autenticidade. Este era seu costume (1 Co 16:21; Gl 6:11; 2 Ts 3:17).


[1] N. do T:. Nota de Rodapé da tradução de J. N. Darby em Efésios 1:1: “Talvez seja interessante mencionar que embora ‘em Éfeso’ seja achado em quase todas as cópias, muitas autoridades têm deixado isso de fora. Alguns, sem suficiente fundamento, a têm considerado como um tipo de circular. Compare Colossenses 4:16”

Resumo da Parte Prática da Epístola Que Resulta na Demonstração de Cristo nos Santos


Resumo da Parte Prática da Epístola Que Resulta na Demonstração de Cristo nos Santos

O que foi dito até aqui encerra a parte principal da epístola. Se ela for seguida pelos santos com exercício moral, o caráter de Cristo será visto em nós. Existem três links no desenvolvimento desta verdade: 
  • O QUE deve ser manifestado – o caráter de Cristo (cap. 3:12-15).
  • COMO deve ser manifestado – por estar cheio de Cristo e Seus interesses em tudo o que falamos e fazemos (cap. 3:16-17).
  • ONDE deve ser manifestado – em todas as esferas da vida do crente (caps. 3:18-4: 6).


Cristo Demonstrado na Propagação da Verdade no Mundo


Cristo Demonstrado na Propagação da Verdade no Mundo

Cap. 4:2-6 – Na seção anterior as exortações eram para grupos específicos de indivíduos, mas agora elas se ampliam para os crentes em geral. As exortações aqui têm a ver com o apoio dos santos à divulgação da verdade por meio da oração e da conduta piedosa. Eles são encorajados a orar pelas coisas em geral, e particularmente pelos servos do Senhor em seu trabalho de comunicar a verdade, e também que os santos manteriam um testemunho apropriado para com os perdidos.
Paulo diz: “Perseverai em oração, velando nela com ação de graças” (v. 2). Muitas vezes oramos por algo, mas desistimos. Isto não é bom. O Senhor ensinou que os homens devem “orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18:1). Já foi dito que precisamos orar tanto quanto precisamos respirar! A alma floresce na atmosfera de oração, mas definha sem ela. Perseverar na oração não significa que devemos insistir com Deus em relação a algo que queremos e persistir em pedir até que Ele nos dê o que estamos pedindo. Isso manifesta um espírito não quebrado que insiste em ter seu próprio caminho. Se essa é a nossa atitude, para nos ensinar uma lição, Deus pode nos conceder o nosso pedido, mas enviar magreza às nossas almas com ele (Sl 106:15). Tiago nos diz que, em todas as nossas orações, devemos acrescentar: “Se o Senhor quiser” (Tg 4:15; Mt 26:39). Isso manifesta um espírito de submissão à vontade divina e um reconhecimento de que, em última análise, queremos a Sua vontade no assunto. “Velando nela” é observar a resposta do Senhor aos nossos pedidos de oração. Isso manifesta fé. Fazê-lo “com ação de graças” manifesta confiança no Senhor. É dizer: “Qualquer coisa o que o Senhor der como resposta (seja ‘sim’ ou ‘não’), sei que será o melhor para mim, por isso vou me regozijar e dar graças mesmo antes de Ele fazer Seu pensamento conhecido”.
Como mencionado, mais especificamente, Paulo desejou as orações dos santos pelo trabalho de divulgar a verdade. Ele diz: “para que Deus nos abra a porta da palavra, a fim de falarmos do Mistério de Cristo” (v. 3).
Vs. 5-6 – Quanto à sua conduta, ele disse: “Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. [oportunidades – JND] vossa palavra seja sempre agradável [com graça – JND], temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um”. Se andarmos com sabedoria em nossa vida diária, teremos “oportunidades” de compartilhar o evangelho com os perdidos (“os que estão de fora”). Andar “para com” implica uma busca genuína de seu bem-estar. Isso abre as portas quando as pessoas percebem que estamos genuinamente interessadas nelas. “Remindo o tempo” refere-se a libertar o tempo livre (o significado de resgatar) em nossos horários ocupados para ser usado no serviço ao Senhor. Paulo fala disso também em Efésios, mas em conexão com uma esfera diferente (Ef 5:15-21). Colocando as duas referências juntas, vemos que existem realmente apenas duas esferas de serviço em que devemos usar nosso tempo: 
  • Remindo o tempo para ajudar as pessoas da comunidade Cristã (“vós” – Ef 5:19, 21).
  • Remindo o tempo para ajudar os que estão fora da comunidade Cristã (“os que estão de fora” – Cl 4:5). 

Esses versículos em Colossenses 4 têm a ver com alcançar os perdidos com o evangelho. É significativo que “orar” seja mencionado antes de alcançar “os que estão de fora”. Isso mostra que todo trabalho de evangelização deve ser feito em clara dependência do Senhor.
“A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal” (AIBB) tem a ver com a forma como nos aproximamos dos outros. Devemos sempre nos comportar de maneira gentil, cortês e gentil em todas as nossas interações com os homens do mundo. Isso vai funcionar para ganhá-los para Cristo. Mas nosso discurso também deve ser “temperado com sal”. Isso fala de fidelidade. Assim, devemos nos lembrar de ter uma palavra para a consciência do incrédulo, para que eles possam perceber que eles têm que prestar contas com Deus, e que eles precisam estar preparados para encontrá-Lo. As consciências dos incrédulos precisam ser tocadas, mas cortaremos seus ouvidos se os “importunarmos” o tempo todo. Paulo disse que nosso discurso deve ser temperado aqui e ali com uma palavra fiel às suas consciências. Podemos ser excessivamente zelosos ao tentar salvar incrédulos e sermos conhecidos por pressionar demais as consciências dos homens. Isso faz com que as pessoas percam o interesse e se afastem. Zelotes como este parecem pensar que este versículo diz: “A vossa palavra seja sempre salgada, temperada com graça” No entanto, é bem o contrário. As Escrituras indicam que é possível ter “zelo de Deus, mas não com entendimento” (Rm 10:2). O zelo é bom, mas precisa ser guiado pelo conhecimento e sabedoria. Paulo disse aos gálatas: “É bom ser zeloso, mas sempre do bem” (Gl 4:18). Ele acrescenta aqui: “para que saibais como vos convém responder a cada um”. Isso implica que, se andarmos em sabedoria para com os que estão de fora, estimularemos o interesse deles e eles “pedirão” de nós “a razão da esperança que há em nós (1 Pe 3:15). Quando eles têm esse espírito, podemos apontá-los para Cristo.

Mestres (cap. 4:1)


Mestres (cap. 4:1)

Por fim, Paulo se dirige aos senhores Cristãos. Mais uma vez, não lemos sobre ele dizendo-lhes para cessar com o seu envolvimento na escravidão. Em vez disso, ele os instrui sobre como se comportar como senhores de uma maneira que honre a Deus. Eles deviam remunerar seus servos com o que era de “justiça e equidade” por seus serviços prestados. Os senhores deveriam estar conscientes de que eles tinham um “Senhor no céu” para Quem são responsáveis.
Vivendo no mundo ocidental onde a escravidão tem sido abolida há muito tempo, podemos estar inclinados a pensar que esta passagem não tem aplicação para nós hoje. No entanto, quando somos empregados remunerados em alguma firma no local de trabalho, estamos, em princípio, na mesma posição que esses servos Cristãos. Durante as horas de nosso emprego em nossas ocupações, prestamos nossos serviços a várias firmas por salários. Portanto, as orientações dadas aqui aos servidores têm uma aplicação prática para nós quando estamos empregados no local de trabalho. Da mesma forma, os empregadores que possuem uma empresa e têm funcionários, em princípio, estão na posição de senhores, e devem administrar suas empresas de uma maneira que honre o Senhor.
A história da Igreja revela que essa orientação foi geralmente aceita pelos escravos Cristãos– a tal ponto que era bem conhecido no mundo da escravidão que um escravo Cristão tinha um preço mais alto no leilão. É um tributo à fé Cristã. Deve ser o mesmo hoje; qualquer empregador que possa contratar um empregado Cristão deve ser grato, porque o Cristão deve cuidar do negócio de seu patrão com a devida diligência e tratá-lo como se fosse dele (Ef 6:5-8; 1 Pe 2:18).

Servos (Escravos)


Servos (Escravos)

Esses crentes eram escravos. A escravidão é algo que Deus nunca pretendeu para o homem; foi introduzido por homens perversos para propósitos sem princípios É interessante e instrutivo ver que em cada epístola de Paulo que trata desse assunto, ele não encoraja os crentes escravos a fazer um esforço para se livrar de sua situação. Em vez disso, ele diz a eles como se comportar em sua situação para que o testemunho da graça de Deus no evangelho seja promovido. Isso porque o Cristianismo não é uma força para corrigir injustiças sociais no mundo; esse não é o objetivo do evangelho. Quando o Senhor veio em Sua primeira vinda, Ele não tentou reformar o mundo retificando seus erros sociais e políticos. Ele fará tudo isso num dia vindouro, quando intervier em juízo na Sua Aparição. Então toda coisa torta neste mundo será corrigida (Is 40:3-5). Assim, os Cristãos não foram chamados para acertar o mundo, mas para esperar pelo dia vindouro. Devemos deixar o mundo como está e anunciar o evangelho que chama os homens do mundo para o céu. Não há, portanto, nenhuma orientação nas epístolas para os Cristãos corrigirem os erros da escravidão, ou qualquer outra injustiça social no mundo. Isto é porque estamos “no” mundo, mas não somos “do” mundo (Jo 17:14). O Senhor disse que se o Seu reino fosse “deste mundo”, então Seus servos lutariam nessas causas (Jo 18:36). Mas, como não é esse o caso, devemos “deixar o caco se esforçar com os cacos da Terra” (Is 45:9 – JND).
Paulo sabia como era importante para os Cristãos manter um bom testemunho diante do mundo. Sua grande preocupação para os servos Cristãos era que eles se comportassem de uma maneira correta, de modo que “o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados” (1 Tm 6:1). Esses crentes escravos não deveriam fugir (como Onésimo fez antes de ser salvo – Fm 15), mas permanecer em sua posição de vida e glorificar a Deus diante de seus senhores tratando-os com respeito genuíno, e não “servindo só na aparência, como para agradar aos homens”. Se eles servissem com “em simplicidade de coração, temendo a Deus”, isto prestaria um poderoso testemunho da realidade de sua fé em Cristo. Assim, eles deveriam trabalhar para seus mestres “de todo o coração, como ao Senhor”, pois, na realidade, eles estavam servindo “a Cristo, o Senhor”. Isso mostra que, independentemente de onde um crente está em seu status social na sociedade, ele ainda tem uma oportunidade. para testemunhar por Cristo. Nem todos podemos ser missionários, mas todos podemos compartilhar o evangelho com aqueles a quem interagimos em nossa vida diária e, assim, servir ao Senhor dessa maneira.
Para encorajar estes servos nisso, Paulo lembra-lhes que o Senhor estava tomando nota de tudo o que eles fizeram, e que Ele iria “galardoá-los” num dia vindouro com a posse da “herança”. Que inversão estava vindo para estes crentes escravos! Eles tinham bem poucos bens neste mundo – eles não podiam possuir propriedade, etc. – mas eles estavam destinados a serem co-herdeiros com Cristo sobre a herança de todas as coisas criadas no universo!

Cristo Demonstrado no Local de Trabalho


Cristo Demonstrado no Local de Trabalho

Cap. 3:22-25 – A próxima esfera de responsabilidade que Paulo aborda é o local de trabalho, onde os servos e senhores têm seus respectivos papéis.

Pais (v. 21)


Pais (v. 21)

Os pais não devem fazer exigências injustificadas a seus filhos, por meio das quais os “irritam” e eles acabam “perdendo o ânimo”. Isso é dito aos pais, mas não às mães, porque os pais têm uma tendência maior a fazer exatamente isso.

Crianças (v. 20)


Crianças (v. 20)

As crianças devem entender que quando elas “obedecem” aos pais, estão fazendo algo que é “agradável ao Senhor”. Obedecer “em tudo” significa até mesmo em coisas que elas possam não gostar de fazer. Novamente, se as crianças souberem e tiverem certeza de que são amadas por seus pais, isso ajudará grandemente em sua disposição de obedecer. É bom notar que a palavra “pais” está no plural. Isso reprime a tendência das crianças obedecerem a um dos pais e não ao outro – talvez ao pai, mas não tanto à mãe. Os pais sendo plurais também sugerem que são um em seus desejos para com as crianças e que estão puxando-as na mesma direção.

Maridos (v. 19)


Maridos (v. 19)

O marido Cristão deve “amar” sua esposa. Ele deve não apenas iniciar o amor no relacionamento, mas também é ele quem deve mantê-lo. Quando uma mulher Cristã sabe que é amada pelo marido, isso vai ajudá-la muito a se submeter a ele. Se um marido “se irrita contra ela [a trata com amargura – ARA], como Paulo adverte contra, isso só tornará o casamento mais difícil.

Esposa (v. 18)


Esposa (v. 18)

A esposa Cristã deve “estar sujeita” ao marido, não porque o marido insiste nisso, mas porque isso “convém ao Senhor”. Isso expressa o lugar em que a Igreja foi estabelecida em relação a Cristo (Ef 5:22-24). Um motivo para sua submissão pode muito bem ser seu amor pelo marido – e isso, é claro, é bom. Mas como uma mulher Cristã sob o Senhorio de Cristo, ela tem um motivo maior para sua submissão – ela se submete porque é o que o Senhor quer que ela faça. Uma vez que toda esposa Cristã, em condições normais, quer agradar ao Senhor, ela deve ser feliz em fazê-lo, pois é a vontade de Deus.
Note que Paulo não diz que a esposa deve obedecer ao marido, como as crianças e os servos devem fazer. Isso é porque ela não tem o mesmo relacionamento com o cabeça da família que os filhos e servos têm. Se a obediência for exigida da esposa, isso tornaria o relacionamento em um casamento Cristão uma coisa legal. A submissão é diferente de obediência. É algo que vem do coração, enquanto que na obediência o coração da pessoa pode estar longe do ato de obedecer. Além disso, se problema entra no relacionamento do casamento, a submissão pode curar muitas das dificuldades que surgem. J. N. Darby disse: “A submissão é o princípio curativo da humanidade”.
Ocupar um lugar de submissão no relacionamento conjugal implica que ela não deve tomar o papel da liderança ou usurpar a autoridade do marido em casa.

Cristo Demonstrado no Círculo Familiar


Cristo Demonstrado no Círculo Familiar

Cap. 3:18-21 – Paulo fala primeiro do círculo familiar. As relações de maridos e esposas, pais e filhos não surgiram com a introdução do Cristianismo – essas relações remontam ao começo da existência do homem. Mas o que o Cristianismo trouxe para a vida familiar é o Senhorio de Cristo como sendo o novo fator motivador de todo comportamento correto nessas relações. Isto é indicado nesta próxima passagem pelo uso frequente do termo – “o Senhor”. Ele eleva todo o assunto a um plano mais elevado do que era conhecido nos tempos do Velho Testamento.
É apropriado que Paulo se dirija primeiro à unidade familiar, pois é um alvo primordial do inimigo. A desintegração da vida familiar é uma das coisas que marca “os últimos dias” no testemunho Cristão (2 Tm 3:1-2). Mas isso não precisa ser assim. Se seguirmos os princípios básicos que Paulo aborda nesses versículos a respeito do amor, da submissão e do Senhorio de Cristo, seremos capazes de enfrentar e derrotar todos os desígnios do inimigo contra a família. Ele mostra que há certas obrigações e responsabilidades na vida doméstica, e quando essas coisas são aplicadas, o lar Cristão andará de acordo com a ordem de Deus e terá Sua bênção e proteção das incursões do inimigo.

RELAÇÕES TERRENAS ONDE CRISTO DEVE SER MANIFESTADO Capítulo 3: 18–4:6


RELAÇÕES TERRENAS ONDE CRISTO DEVE SER MANIFESTADO
Capítulo 3: 18–4:6

Nesta próxima seção, Paulo mostra que uma manifestação do caráter de Cristo deve ser vista em todos os aspectos de nossas vidas – no círculo familiar, em nossa vida profissional e no alcance dos perdidos no mundo. Em cada relacionamento e em cada esfera, aqueles que estão em sujeição são tratados primeiro. A esposa é exortada antes de o marido, os filhos antes dos pais e os servos antes dos senhores.

O Poder Espiritual Para Agir de Acordo com a Verdade


O Poder Espiritual Para Agir de Acordo com a Verdade

Vs. 16-17 – Paulo nos exortou a vestir as características morais do novo homem, mas a questão é: “Como?” Ele prossegue abordando isso a seguir. Alguns dirão que devemos cultivar as graças Cristãs fazendo um esforço para agir como Cristo em todas as situações da vida. No entanto, Paulo não indica que essas coisas são colocadas por qualquer esforço consciente do crente. Antes, ele diz: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração E, (tudo) quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai”. Ele fala de duas coisas aqui: a necessidade de nos enchermos com as coisas de Cristo pelas várias maneiras que Paulo estabelece, e estarmos engajados com as coisas da vida que podem ser feitas para a glória de Cristo. Quando estamos ocupados com essas coisas, as características morais de Cristo serão formadas em nós pelo Espírito com bastante naturalidade (2 Co 3:18). Da mesma forma, uma árvore produz frutos como resultado natural do sistema radicular absorvendo água e nutrientes do solo. É verdade que devemos nos exercitar “piedade” (1 Tm 4:7), mas isso é feito agindo sobre o próprio princípio que Paulo aborda aqui – estando cheio das coisas de Cristo. A atual produção de “fruto” se dá em nós pelo Espírito quando estamos ocupados com Cristo e Seus interesses (Gl 5:22-25).
“A Palavra de o Cristo[1] (JND) é a verdade que pertence especificamente a Cristo e à Igreja. Isto é indicado na expressão “o Cristo” que denota a união mística da Cabeça com os membros do corpo (1 Co 12:12-13). “Sabedoria, ensino e admoestação” são instruções específicas relativas à colocação dessa verdade em prática.
“Salmos, hinos, cânticos espirituais” são três tipos de composições Cristãs que expressam pensamentos e sentimentos espirituais em relação ao Senhor, à verdade e ao caminho em que trilhamos. “Salmos” não são, como alguns pensam, os Salmos do Velho Testamento. Estas são composições baseadas em experiências Cristãs pelas quais os santos passaram, caminhando com o Senhor. Se fossem os salmos do Velho Testamento, o Espírito de Deus teria acrescentado o artigo “os” como em Lc 24:44[2] e At 13:33. Os Salmos do Velho Testamento são composições judaicas expressando sentimentos e experiências judaicas; elas não têm um caráter Cristão e não transmitem adequadamente o conhecimento e sentimento Cristão. Por exemplo, o nome do Pai, que é característico do Cristianismo, não é conhecido neles. Portanto, a vida eterna não está em vista nos Salmos (Jo 17:3). Além disso, o conhecimento da obra consumada de Cristo não é conhecida pelos escritores dos Salmos, nem a aceitação do crente em Cristo diante de Deus por meio da habitação do Espírito. Os Salmos do Velho Testamento não retratam os sentimentos de quem tem uma consciência purificada e conhece a paz com Deus. Consequentemente, eles são compostos com um elemento de medo do julgamento de Deus, mesmo que eles tenham fé. Além disso, a esperança nos Salmos não é o céu, mas viver na Terra no reino do Messias de Israel (Sl 25:13, 37:9, 11, 29, 34, etc.). A adoração é também de uma ordem judaica em um templo terrestre; o lugar da adoração de um Cristão dentro do véu é totalmente desconhecido. Além disso, o clamor em muitas das orações nos Salmos é por vingança contra seus inimigos, que não é a atitude de um Cristão que abençoa aqueles que o amaldiçoam e ora por aqueles que os tratam injustamente. Os Cristãos podem lê-los e obter um entendimento das circunstâncias do remanescente judaico na Tribulação vindoura, e também obter conhecimento dos princípios morais de Deus neles que são aplicáveis aos santos de todas as épocas, e assim receber consolo e esperança em suas circunstâncias da vida.
“Hinos” são composições que expressam adoração e se dirigem diretamente a Deus Pai e ao Senhor Jesus Cristo. Estes podem tomar a forma de orações. “Canções espirituais” são composições que contêm verdades espirituais de acordo com a revelação Cristã pelas quais somos instruídos e exortados no caminho Cristão. Eles podem estar na forma de “ensino” a nós sobre algum aspecto da verdade do Novo Testamento, ou de “admoestação” quanto a algum ponto prático da vida Cristã.
Quando estamos imersos nessas coisas espirituais que têm a ver com Cristo, o poder do Espírito será evidente em nossa vida, e Cristo será visto em nós.


[1] “O Cristo” é uma expressão nos escritos de Paulo que se refere à união mística de Cristo, a Cabeça, e os membros do Seu corpo, pela habitação do Espírito Santo (1 Co 12:12-13 – JND).

[2] N. do T.: Em algumas versões em português a palavra “nos” está grafada em itálico, significando que não se encontra nos manuscritos.

Cristo Visto no Crente


Cristo Visto no Crente

Vs. 12-15 – Passando à aplicação prática disso, Paulo diz: “Revesti-vos pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade. Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro: assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade [acrescentai o amor – JND], que é o vínculo da perfeição. E a paz de Deus, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos”. Isso mostra que, desde que nos vestimos do novo homem, nossa vida deve manifestá-lo praticamente. Assim, outra peça de roupa, por assim dizer, é para ser “revestida” que manifesta o caráter do novo homem. Essa mudança de caráter é ilustrada tipicamente em Elias e Eliseu. Elias é um tipo de Cristo que foi elevado ao céu e Eliseu é um tipo de crente. Os filhos dos profetas disseram sobre Eliseu: “O espírito de Elias repousa sobre Eliseu” (2 Rs 2:15). Ele havia rasgado suas próprias vestes e colocado as vestes de Elias, e ao fazê-lo, não teve mais uso para o manto velho, por isso foi deixado de lado.
“Santos e amados” é o que os santos estão diante de Deus. Paulo então lista dez características morais do novo homem, que é como os santos devem ser vistos diante do mundo. Essas coisas são as características morais de Cristo. Quando elas são vistas nos santos enquanto se movem juntos coletivamente, a verdade de “Cristo em vós, a esperança da glória” será exibida diante do mundo (cap. 1:27): 
  • “Compaixão” (Mt 14:14; Mc 1:41).
  • “Bondade” (Ef 4:32).
  • “Humildade” (Mt 11:29).
  • “Mansidão” (Mt 11:29).
  • “Longanimidade” (Hb 12:3).
  • “Paciência” (Mt 26:63; Jo 19:9).
  • “Perdão” (Lc 23:34).
  • “Amor” (Jo 13:1).
  • “Paz” (Jo 14:27).
  • “Gratidão” (Mt 11:25). 

Em meio a todos esses traços maravilhosos de Cristo, Paulo diz: “E, sobre tudo isto, revesti-vos de caridade [acrescentai o amor – JND], que é o vínculo da perfeição” (v. 14). Este é o cinto, por assim dizer, que mantém a nova vestimenta no lugar.
Nós podemos ver porque essa passagem tem sido frequentemente chamada de “o Vestiário do Cristão”. Ela tem a ver com mudança de caráter. Como mencionado, é o antítipo de Israel circuncidando-se em Gilgal. Ao fazê-lo, o Senhor tirou “o opróbrio do Egito” de sobre eles (Js 5:9). Da mesma forma, quando uma pessoa vem a Cristo pela primeira vez, ele carrega as marcas de sua vida no mundo, das quais o Egito é um tipo. Mas, ao passar pelo exercício deste capítulo de desvestir aquela roupa velha e vestir a nova, ele não é mais marcado pelas coisas de sua antiga vida. A vergonha e a reprovação acabaram porque houve uma mudança de caráter.
Como o novo homem é conformado segundo “a imagem daqu’Ele que o criou”, sendo parte da raça da nova criação, somos plenamente capazes de representar a Deus neste mundo.

O Novo Homem


O Novo Homem

Vs. 10-15 – Tendo declarado o lado negativo das coisas, Paulo continua a dar o lado positivo em conexão com o novo homem. Ele diz: “tendo colocado o novo (homem), renovado para o pleno conhecimento de acordo com a imagem daqu’Ele que o criou, onde não há grego e judeu, circuncisão e incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; mas Cristo é tudo e em todos” (JND). Assim como o desvestir do velho homem, o vestir do novo homem é uma coisa que foi feita quando uma pessoa assumiu a posição Cristã. As exortações práticas que se seguem nos versículos 12-15 baseiam-se neste fato.
O “novo homem”, como o velho homem, é um termo abstrato. Indica a perfeição moral na raça da nova criação sob Cristo. Enquanto o velho homem é caracterizado por ser “corrupto” e “enganoso”, o novo homem é caracterizado por “justiça” e “santidade” (Ef 4:22-24). O novo homem foi visto pela primeira vez “em Jesus” (Ef 4:21). Isto é, os homens viram pela primeira vez essa perfeição moral quando o Senhor Jesus andou aqui neste mundo. (“Jesus” é o nome de Sua Humanidade.) Assim como o velho homem não é Adão pessoalmente, o novo homem não é Cristo pessoalmente. G. Davison disse: “O novo homem não é Cristo pessoalmente, mas é Cristo caracteristicamente” (Precious Things, vol. 3, pág. 260). Como mencionado anteriormente, o novo homem é frequentemente confundido com a nova vida e natureza no crente. As pessoas dirão erroneamente: “O novo homem em nós precisa se alimentar de Cristo”. Ou: “Nosso novo homem precisa de um objeto – Cristo”. Seria mais correto dizer que a nova vida em nós precisa se alimentar de Cristo.
V. 11 - Paulo menciona quatro coisas que marcam a antiga ordem de criação que não fazem parte da nova ordem de criação: 
  • “grego e judeu” – sem distinções nacionais.
  • “circuncisão e incircuncisão” – sem distinções religiosas.
  • “bárbaro, cita” – sem distinção intelectual.
  • “servo nem livre” – sem distinções sociais. 

Assim, as distinções de raça, religião, cultura e classe são todas superadas na nova posição do crente em Cristo, a Cabeça da nova criação. Acrescentando, “Cristo é todas as coisas e em todos” (JND), Paulo estava indicando que tudo na nova ordem de vida em Cristo toma o caráter d’Ele, pois Ele é o Cabeça da nova raça (Ap 3:14). Ele é “tudo e em todas as coisas” (Cl 3:11 – TB).

O Velho Homem


O Velho Homem

Assim, nesta próxima série de versículos, Paulo faz uma aplicação prática referente a essa mudança de caráter baseada no “velho homem” (v. 9) e no “novo homem” (v. 10). Este é um assunto que não é bem entendido. Esses dois termos não se referem à carne e à nova natureza, como normalmente se pensa, mas são expressões abstratas que indicam o estado corrupto da raça caída de Adão e a nova ordem moral na raça da nova criação sob Cristo. O velho homem não se refere a Adão pessoalmente, mas ao que é característico da raça caída da qual ele é a cabeça. É a corporificação de cada característica horrenda e pecaminosa que marca aquela raça. Para se enxergar o velho homem adequadamente, devemos olhar para a raça como um todo, pois é improvável que qualquer pessoa seja marcada por todos os recursos que caracterizam esse estado corrupto. Por exemplo, uma pessoa pode ser caracterizada por ser irada e enganadora, mas pode não ser imoral. Outra pessoa pode não ser conhecida por perder a paciência, nem por ser enganosa, mas ele é terrivelmente imoral. No entanto, considerando a raça como um todo, vemos uma personificação de todas as horrorosas características que compõem o velho homem.
Esse estado corrupto foi condenado por Deus na cruz (Rm 6:6, 8:3) e é algo que é deixado de lado pelo crente quando ele é salvo. Ele pode não estar consciente de o ter feito à época, mas ao tomar a posição Cristã, o crente, por sua profissão de fé, dissocia-se daquele estado corrupto, pois aquilo não faz parte do que constitui um Cristão. Portanto, como Cristãos, não estamos mais associados a esse antigo estado corrupto. Este desvestir-se é afirmado no tempo verbal aoristo[1] em grego, que se refere a ter feito isso de uma vez por todas. A KJV e as versões em português equivocadamente apresentam Efésios 4:22 como uma exortação, fazendo do desvestir-se do velho homem algo que devamos fazer em nossas vidas diariamente. Mas a passagem deveria dizer: “havendo se desvestido conforme o comportamento anterior, do velho homem ...” (JND) Isso mostra que o desvestir-se do velho homem é algo que já foi feito na vida do crente e que as exortações seguintes dirigidas a ele na passagem são baseadas nesse fato.
Como mencionado, o “homem velho” é frequentemente confundido com a velha natureza (a carne). Este é um equívoco generalizado entre os Cristãos. Eles dirão coisas como: “O velho homem em nós deseja coisas que são pecaminosas”. Ou: “Nosso velho homem quer fazer esta ou aquela coisa má”. Essas afirmações estão confundindo o velho homem com a carne. As Escrituras não usam o termo dessa maneira. J. N. Darby observou: “O velho homem está habitualmente sendo usado para a carne incorretamente” (Food for the Flock, vol. 2, pág. 286). Uma diferença é que do velho homem nunca é dito estar em nós, enquanto a carne certamente é. F. G. Patterson disse: “Nem eu acho que as Escrituras nos permitirão dizer que temos o velho homem em nós – enquanto ensina da maneira mais plena que temos a carne em nós” (A Chosen Vessel, pág. 51). Portanto, não é correto se referir ao velho homem como algo que vive em nós com apetites, desejos e emoções, assim como a carne. H. C. B. G. disse: “Eu sei o que significa um Cristão que perde a paciência e diz que é ‘o velho homem’, mas a expressão está errada. Se ele dissesse que era ‘a carne’, ele teria sido mais correto” (Food for the Flock, vol. 2, pág. 287). Além disso, se o velho homem fosse a carne, então Efésios 4:22-23 (na KJV e nas versões em português) estaria nos dizendo que precisamos nos desvestir da carne! Isso é algo que nenhum Cristão pode fazer enquanto vive neste mundo. Isso não vai acontecer até que morramos ou quando o Senhor vier.
Portanto, não há exortações nas Escrituras para se desvestir do velho homem. Há, no entanto, exortações para se desvestir das coisas que caracterizam o velho homem. Assim, Paulo diz: “Mortificai [Colocai na morte – JND], pois, os vossos membros que estão sobre a Terra: a fornicação, a imundícia, a paixão [vil], a má concupiscência e a avareza, que é idolatria” (v. 5 – TB). Essas mais grosseiras manifestações da carne eram comuns no mundo pagão, mas não têm lugar na vida Cristã. O fato de que há uma exortação desse tipo para os crentes mostra que quando uma pessoa é convertida, sua antiga natureza pecaminosa não é erradicada.
Os Cristãos não são chamados a “mortificar” seus corpos, mas antes a mortificar “as obras” da carne que se manifestam em seus corpos (Rm 8:13). Ao usar a palavra “mortificar [colocar na morte – JND], vemos a necessidade de lidar com esses pecados de forma sem misericórdia. F. B. Hole disse: “Colocar a morte é uma expressão forte e compulsória. Nossa tendência é negociar com essas coisas, e às vezes até brincar com elas e fazer provisões para elas. Nossa segurança, no entanto, está numa ação de forma implacável. Com espada à mão, por assim dizer, devemos nos encontrar com elas sem qualquer ideia de mostrar-lhe misericórdia. Nós deveríamos encontrá-las da mesma maneira de Samuel ao despedaçar Agague perante o Senhor” (Paul’s Epistles, vol. 2, pág. 106). Usando novamente o ensinamento típico na jornada de Israel à Canaã, o que é descrito aqui em Colossenses 3, corresponde a Gilgal – o lugar onde Israel cortou sua carne pela circuncisão (Js 5). Isso tipifica o exercício do crente de cortar as manifestações da carne por meio do julgamento próprio.
Note também que Paulo não estava falando de mortificar os “membros” de nossos corpos literalmente – o desmembramento de nossas mãos, pés, etc. Ele estava usando a palavra de maneira figurativa para descrever o exercício de julgar a carne e mantê-la no lugar de morte. para que essas coisas corruptas não se manifestassem em nossos membros. Mortificar nossos membros não é feito com resoluções, jejuns, privando o corpo de confortos naturais, etc. Nunca nos é dito para nos crucificarmos ou lutarmos contra a carne para mantê-la na linha – essas coisas levam à derrota. Nós devemos colocar estas coisas na morte assim que sejam concebidas (Tg 1:15).
Entre esses horríveis distúrbios morais, Paulo menciona “avareza, que é idolatria”. A avareza é permitir que o desejo por algo tenha um indevido lugar em nossos corações que desloca Deus, e qualquer coisa que desloque Deus em nossas afeições é um ídolo.
Vs. 6-7 – Os homens acham que podem cometer esses pecados e escapar do julgamento de Deus, mas Paulo diz que “vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência”, que sentem prazer nesses pecados. Este julgamento é governamental (enquanto vivem neste mundo) e eterno (quando saem deste mundo).
Vs. 8-9 – Mas há outras coisas, além daquelas mencionadas no versículo 5, que são do velho homem e que também devemos nos desvestir delas. Paulo diz: “Mas agora despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência [blasfêmia - JND], das palavras torpes da vossa boca. Não mintais uns aos outros, pois que já vos despistes do velho homem com os seus feitos”. “Despojar” está no tempo verbal aoristo do grego. Nós uma vez vivemos envolvidos nessas coisas como uma roupa vestida sobre nós. Quando os homens olhavam para nós, era isso que eles viam – uma “roupa manchada da carne” (Jd 23). Ao ser salvo, isso não desse ser visto nunca mais. Assim, a roupa antiga deve ser desvestida, e essa é a essência da exortação de Paulo aqui. Vamos repetir, o exercício não é desvestir o velho homem – isso já foi feito – mas desvestir o caráter pecaminoso do velho homem.


[1] N. do T.: A palavra grega Aoristo significa sem limite. Numa tradução mais livre, significa indefinido ou indeterminado. Indica uma ação que ocorreu pontualmente em algum momento do passado, sem relacioná-la com o presente. A ação ocorre uma única vez, de uma vez por todas.

Uma Mudança de Caráter


Uma Mudança de Caráter

Vs. 5-17 – Ser introduzido na vida de cima com Cristo exige que nossa velha vida que uma vez vivemos em nossos dias antes da conversão, vá embora. A razão é simples: as duas não podem continuar juntas na vida de um Cristão. Assim, o que se segue neste terceiro capítulo é o exercício de desvestir o caráter da velha vida e colocar o caráter da nova, de modo que o objetivo divino de ter uma reprodução de Cristo manifestada nos santos seria alcançado (cap. 1:27).

O Efeito Prático de Estar Ressuscitado Com Cristo


O Efeito Prático de Estar Ressuscitado Com Cristo

Capítulo 3:1-4 – A contrapartida da identificação do crente com a morte de Cristo é a identificação do crente com a ressurreição de Cristo. Paulo aborda isso em seguida. No capítulo 2, ele mostrou que o efeito prático de nossa morte com Cristo nos desconecta do mundo do homem, da sabedoria do homem e da religião do homem. Ele agora mostra que o efeito prático de nossa identificação com a ressurreição de Cristo é nos associar com o mundo de Deus acima e com tudo o que está lá. Por isso, o capítulo 2:20-23 apresenta o lado negativo dessa grande verdade e o capítulo 3:1-4 dá o lado positivo. A grande diferença entre os dois é que, do lado positivo, temos um objeto diante de nós – Cristo.
Paulo diz: “Se (já que), ressuscitastes com Cristo [o Cristo – JND], buscai as coisas que são de cima, onde Cristo [o Cristo – JND] está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da Terra Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo [o Cristo – JND] em Deus”. Visto que é verdade que estamos identificados com Cristo em Sua ressurreição, devemos buscar as coisas que estão em Cristo nas alturas. Pode ser perguntado: “O que exatamente são ‘as coisas que são de cima’”? São as nossas bênçãos celestiais e privilégios que foram assegurados para nós pela morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Em Cristo ressuscitado, fomos introduzidos em uma esfera de coisas totalmente nova que veio à existência por meio do Seu ser glorificado e assentado à destra de Deus. Essas coisas não existiam enquanto Cristo estava na Terra.
F. B. Hole explicou o que significa “pensai nas coisas que são de cima”. Ele disse: “Colocamos nossas mentes nas coisas do alto, não repousando em poltronas e entregando-nos a sonhos e imaginações místicas quanto às coisas que podem estar no céu, mas colocando nossa mente supremamente sobre Cristo e buscando em todas as coisas a promoção dos interesses do céu. O embaixador britânico em Paris coloca sua mente nas coisas britânicas buscando pelos interesses britânicos nas circunstâncias francesas, e não permanecendo sentando para tentar relembrar como é o cenário britânico” (Paul’s Epistles, vol. 2, pág. 105-106). Assim, o Cristão cuja mente está fixada nas coisas celestiais está ocupado na Terra perseguindo os interesses celestiais de Cristo. Essas coisas seriam: espalhando o evangelho, aprendendo e ensinando a verdade, pastoreando o povo de Deus, etc. A pessoa que está envolvida nisso tem colocado sua mente nas coisas de cima, porque esses interesses estão centrados em Cristo acima e têm seu objetivo final em Cristo acima.
É verdade que temos que suprir nossas necessidades temporais por meio de ocupação secular, mas não precisamos colocar nossas afeições nessas responsabilidades terrenas. O perigo para nós é sermos absorvidos pelas coisas terrenas. Daí vem a admoestação de Paulo para colocar nossa mente nas coisas de cima, e “não nas que são da Terra”. Ele acrescenta: “porque já estais mortos”. Ao dizer isso, Paulo não estava ensinando que o Cristão está morto para a natureza – isto é, para as coisas naturais desta criação. O crente está morto para o pecado e para o mundo, mas quando se trata de coisas naturais, Deus “abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos” (1 Tm 6:17). Portanto, são coisas carnais e mundanas na Terra para as quais o crente está morto, não coisas naturais.
Paulo então diz aos colossenses que eles não devem esperar que o mundo entenda sua busca pelas coisas celestiais, porque a vida do Cristão está “escondida com Cristo em Deus” (v. 3). De quem é esta vida escondida? Está escondida dos homens do mundo. Os homens deste mundo não entendem os Cristãos, no que diz respeito às nossas fontes e motivos internos. Eles não conseguem entender por que vivemos da maneira como vivemos e as coisas pelas quais vivemos – não faz sentido para eles. O homem incrédulo do mundo vive e se move e tem todos os seus pensamentos sobre as coisas temporais desta Terra; ele acha que todos deveriam fazer o que ele faz. Quando ele vê um Cristão “marchando ao ritmo de um tambor diferente”, é um total enigma para ele.
Ter uma vida oculta com Cristo no sentido em que Paulo fala aqui não significa que nos escondemos do mundo literalmente. Sequestrarmos a nós mesmos em nossas moradias e, como monges, vivermos uma vida isolada seria contraproducente para nosso testemunho Cristão. Pelo contrário, o povo de Deus deve ser “a luz do mundo” e como “uma cidade edificada sobre um monte” que “não se pode esconder” e, portanto, deve ser um testemunho claro e brilhante perante o mundo (Mt 5:14). O principal direcionamento desta epístola aos colossenses é fazer com que os santos se movam juntos na Terra de tal maneira que haja uma manifestação diante do mundo da verdade do Mistério, que é: “Cristo em vós, a esperança da glória” (cap. 1:27).
Paulo conclui dizendo: “Quando Cristo que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória” (v. 4). Ele traz isto para mostrar que há um dia se aproximando quando Cristo e a Igreja serão manifestados diante do mundo inteiro (2 Ts 1:10), e naquele tempo será revelado diante de todos o que a fé levou os crentes a fazerem. neste dia. A revelação daquele dia explicará para o que temos vivido neste dia (Jo 17:23). Da mesma forma, Paulo tinha apenas dois dias diante dele em sua vida e serviço: “dia de hoje” (At 20:26) e “aquele dia” (2 Tm 1:12, 18, 4:8). Ele viveu sua vida neste presente dia da graça em vista do dia da manifestação – e nós também devemos fazê-lo.

O Efeito Prático de Estar Morto Com Cristo


O Efeito Prático de Estar Morto Com Cristo

Cap. 2:20-23 – Paulo fala primeiro das ramificações práticas do crente estando morto com Cristo. Ele diz: “Se (já que) morrestes com Cristo aos rudimentos do mundo, porque, como se vivendo no mundo, vos sujeitais a ordenanças: Não manuseies, nem proves, nem toques (as quais coisas são todas para destruição pelo uso), conforme os mandamentos e doutrinas dos homens? Elas têm sem dúvida certa aparência de sabedoria em culto voluntário e humildade e severidade para com o corpo; mas não têm valor algum e só servem para satisfazer a carne” (TB). O argumento de Paulo aqui é que, uma vez que os santos morreram “com Cristo” para “os rudimentos [elementos – JND] do mundo”, por que se sujeitariam a várias ordenanças de religião mundana que foram inventadas por homens ou emprestadas do judaísmo? O crente não está apenas morto para as coisas mais grosseiras da carne, mas também para a religião mundana. Os Cristãos, em geral, não entenderam isso e incorporaram erroneamente muitas ordenanças e rituais carnais em seus cultos da igreja. W. Kelly disse: “O grande erro da Cristandade sempre foi voltar às ordenanças” (Lectures on Colossians, pág. 136). (O Cristianismo bíblico tem apenas duas ordenanças: o batismo e a ceia do Senhor. O batismo é realizado uma vez na vida de uma pessoa e o partir do pão na Ceia do Senhor deve ser feito semanalmente – At 20:7).
O fato de esses falsos mestres terem encorajado os santos a se engajarem nas ordenanças carnais da religião terrena provou que eles estavam promovendo algo que não fazia parte do verdadeiro Cristianismo bíblico. Para ajudar os colossenses a ver isso mais claramente, Paulo expôs a loucura de buscar a realização espiritual por meio de ordenanças carnais e práticas ascéticas (punir o corpo na tentativa de impedi-lo de obedecer às concupiscências da carne). Ele dá um exemplo das regras e regulamentos que acompanham muitas dessas ordenanças – “Não manuseies, nem proves, nem toques”. Estas são injunções humanas, que ele chama de “os mandamentos e doutrinas dos homens”, pelos quais pessoas religiosas mal orientadas procuram em vão controlar a carne e alcançar uma vida espiritual mais elevada. Religião feita de confiar em ordenanças e rituais externos pode apelar para um homem “vivendo no mundo”, mas é totalmente inconsistente com o crente que aceita a verdade de que ele morreu com Cristo. A identificação com a morte de Cristo o separou de tudo isso. Em um parêntese, Paulo explica que essas coisas não eram espirituais, mas carnais, e eram “para destruição pelo uso” delas (v. 22a).
Como mencionado anteriormente, o ascetismo nega ao corpo certas coisas (comida, sono, conforto natural, etc.) para purificar o espírito humano e controlar a concupiscência, mas na realidade só gratifica a carne com o sentimento de ter agido naquilo que acha ser louvável. A orgulhosa natureza caída ganha certa satisfação em tentar manter o corpo controlado; uma pessoa pode se orgulhar do que sofreu. Em outro parêntese, Paulo explica isso, afirmando que essas coisas têm “certa aparência de sabedoria em culto voluntário e humildade e severidade para com o corpo” (v. 23). Depois de fechar o parêntese, ele diz que toda essa prática é apenas “para a satisfazer a carne”. Apesar desse ar de pseudo-espiritualidade, milhares de monges provaram que essas coisas não controlam os prazeres da carne. Eles privaram seus corpos, espancaram seus corpos e fizeram muitas promessas sinceras a Deus, etc., mas nenhuma quantidade de força de vontade e sofrimento físico mudou a mente carnal do homem. O Senhor ensinou isso a Nicodemos, dizendo: “O que é nascido da carne é carne” (Jo 3:6). Ou seja, a carne não muda no homem, independentemente de quantos mecanismos forem usados para alterar suas propensões. Depois de todas essas tentativas de reformar a carne terem sido feitas, permanece a mesma velha carne que sempre foi.
No capítulo 2:20-23, Paulo não descreve um homem que está se esforçando para se tornar morto. Isso é algo que não é ensinado nas Escrituras, mas lamentavelmente buscado por muitos crentes bem-intencionados. Eles dirão: “Temos que morrer para nós mesmos, para que Cristo possa viver em nós”. A verdade é que o Cristão está “morto com Cristo” (v. 20). Ele também está “morto para o pecado” (Rm 6:2) e “morto para a lei” (Rm 7:4). Tudo isso é resultado de sua identificação com a morte de Cristo. Portanto, o que é necessário não é um esforço de alguém para atingir a morte com Cristo por meio de práticas ascéticas, mas ter o poder do Espírito para agir sobre o fato de que morremos com ele. Isto é retomado em detalhes em Romanos 6-8.