2)
RACIONALISMO FILOSÓFICO (vs. 8-15)
A segunda coisa perigosa que
marcou esses falsos mestres foi o racionalismo filosófico. Isto é, o uso do
raciocínio humano nas coisas divinas. Filosofia significa “o amor do conhecimento”. Não é errado querer conhecimento; Paulo
orou pelos santos para esse fim no capítulo 1:9. O perigo é procurá-lo à parte
das revelações que Deus deu pelos apóstolos e profetas do Novo Testamento. Isso
é exatamente o que esses falsos mestres estavam fazendo. Eles tentaram
adicionar filosofia ao evangelho, mas foi apenas o trabalho da mente humana nas
coisas de Deus. Como resultado, eles se desviarem da verdade com muita má
doutrina. Sendo assim, Paulo advertiu os colossenses: “Cuidai que não haja ninguém que vos faça de vós [que vos leve como –
JND] presa sua meio da sua filosofia e vão engano, segundo a tradição [ensino – JND] dos homens, segundo os rudimentos [elementos – JND] do mundo, e
não segundo Cristo” (TB). Paulo destaca aqui o triste efeito deste
ensinamento que finalmente leva os crentes para longe de Cristo.
Paulo expõe essa linha
filosófica de ensino como sendo “vão engano”
porque ministrava ao orgulho do homem. Como emana da mente dos homens, todo
esse raciocínio humano nunca leva em conta o fim do homem na carne sob o juízo
de Deus na cruz, como fazia o evangelho que Paulo pregava (Rm 6:6; 8:3). Essa
linha humana de ensino faz algo do homem na carne. Vê algum bem no homem e
procura cultivá-lo e, assim, ministra enganosamente à vaidade do homem. É por
isso que é chamado vão engano.
Aos Cristãos procurarem conhecimento
nos assuntos da vida dos filósofos gregos não convertidos mostra claramente que
eles não entendem que “o homem natural
não compreende [aceita – TB] as coisas do Espírito de Deus, porque lhe
parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente” (1 Co 2:14). Simplificando: os filósofos do mundo não
podem dar a verdade ao Cristão porque eles não a têm! O melhor que eles podem
oferecer é apenas mera razão humana. Eles podem ter grandes pretensões de ter um conhecimento espiritual
mais elevado, mas na realidade Paulo diz que são apenas os “rudimentos [elementos] do mundo”. “Os gregos buscam sabedoria” (1 Co 1:22), mas é “a sabedoria deste mundo” (1 Co 2:6).
Além disso, grande parte de sua sabedoria mundana está cheia de incertezas.
Cada nova geração de filósofos geralmente contradiz a geração anterior, de modo
que aquele que busca o conhecimento não tem esperança real para descansar sua
alma. Se nos aprofundarmos na filosofia e na sabedoria dos homens, em breve
seremos preenchidos com esse tipo de coisa e Cristo será deixado de fora.
Vs. 9-10 – Pelo contrário, em
Cristo “habita corporalmente toda a
plenitude da Divindade”. O argumento de Paulo ao afirmar isso é mostrar que
em Cristo no alto há tudo o que podemos precisar ou desejar. Se quisermos “sabedoria”, a temos n’Ele (1 Co 1:30)
e no Mistério (Cl 2:3). Não há, portanto, necessidade de recorrer a filósofos
mundanos para iluminação. Assim, Paulo diz que os crentes são “perfeitos [completos – JND] n’Ele”.
Quanto à nossa posição diante de Deus e à nossa porção em Cristo, simplesmente
não há nada que possa ser acrescentado a elas. (O capítulo 1:19 refere-se à
plenitude da Divindade habitando em Cristo como um Homem na Terra durante Sua vida
e ministério, enquanto aqui, no capítulo 2:9, refere-se a Ele como um Homem glorificado
no alto.)
Além disso, se alguém
pensasse que os seres angélicos eram realmente algo especial e objetos a serem
admirados (como esses mestres defendiam), eles precisavam entender que Cristo é
o Criador de todos esses seres (Sl 104:4). e, como tal, Ele é “o Cabeça de todo principado e poder [autoridade – JND]”. Este fato prova que Ele é incomparavelmente superior a eles. Na
realidade, a posição dessas criaturas angélicas diante de Deus é na verdade inferior à dos Cristãos! Como filhos de
Deus na nova ordem da criação, estamos em uma posição muito mais elevada que os
anjos. Estando sentados juntos “nos
lugares celestiais em Cristo Jesus”, estamos muito “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo
o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef
1:21; 2:6). Eles são realmente nossos servos, ordenados por Deus para nos
ajudar em várias situações da vida (Hb 1:14). Não somos considerados completos
nesses seres; nossa plenitude está em Cristo. Além disso, como membros do corpo
de Cristo, temos uma união especial com Ele como a Cabeça, pela habitação do
Espírito Santo - mas essas criaturas não têm essa união. (Nota: o versículo 10
se refere a anjos eleitos em suas diferentes capacidades, enquanto o versículo
15 se refere a diferentes categorias de anjos caídos.)
O Remédio
Vs. 11-15 – O remédio para
todo o racionamento e especulação humanos nas coisas de Deus é entender o
significado da morte e ressurreição de Cristo. Paulo traz isto aqui, dizendo: “no qual também fostes circuncidados com a
circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a
circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados com Ele no batismo, no qual também
fostes ressuscitados [com Ele –
JND] pela fé no poder [na obra – JND] de Deus, que O ressuscitou dentre os mortos” (AIBB). Como essas ideias
filosóficas são errôneas e depreciativas para com a Pessoa e a obra de Cristo,
é claro que elas emanam do homem na carne – isto é, toda aquela ordem de vida que
segue a natureza pecaminosa caída no homem. Assim sendo, Paulo declara que na
morte de Cristo (a qual ele se refere como “a
circuncisão de Cristo”), Deus condenou o homem na carne (que ele chama de “o corpo da carne”), e como tal, Ele a deixou
de lado como inútil. Assim, tudo o que tem a ver com o homem na carne – desde
seus pecados mais imundos aos seus raciocínios filosóficos do assim chamado
conhecimento superior – foi julgado por Deus na morte de Cristo. Assim, Sua
morte marcou o fim judicial do homem na carne diante de Deus (Rm 6:6; 8:3). A
KJV e a ARF acrescentou as palavras “dos
pecados” no versículo 11, mas sem suficiente autoridade de manuscrito e,
portanto, não deveria estar no texto. O assunto no verso não são as ações da
carne, mas a carne como um sistema maligno no homem caído que controla seus
movimentos. O ponto aqui é que a morte do Senhor não apenas cuidou do fruto da
natureza pecaminosa caída (os pecados do crente), mas também condenou a própria
raiz que produzia esses pecados e que tirou tudo isso de diante de Deus.
Além disso, os Cristãos, por
meio de sua identificação com a morte de Cristo, foram “circuncidados com a circuncisão não feita por mãos”, e assim,
diante de Deus, foram cortados judicialmente de toda conexão que tinham com a
carne. O crente também é visto como sendo “sepultado”
com Cristo, como demonstrado na ordenança do “batismo”. Além disso, o crente também é visto como “ressuscitado com Ele”. Assim, somos
identificados com toda uma nova ordem de vida em Cristo.
Como mencionado acima, Paulo
usa as palavras “circuncisão” e “corpo” em um sentido simbólico nesta
passagem. Quanto ao uso da palavra “corpo”
nesta passagem, descreve todo o sistema de vida após a carne. Similarmente,
poderíamos dizer: “O corpo do
conhecimento científico”, ou “o corpo
do conhecimento médico”, etc. J. A. Trench explicou como: “‘O corpo do pecado’ –
isto é, todo o seu sistema e força, como nós digamos, o corpo de um rio ... É
todo o sistema e a totalidade dele” (Truth
for Believers, vol. 2, págs. 77, 83). J. N. Darby disse: “Ele [Paulo] toma
a totalidade e o sistema do pecado no homem como um corpo que é anulado pela
morte” (Synopsis of the Books of the
Bible em Romanos 6). E. Dennett disse algo semelhante: “Pode ser bom dizer
que ‘o corpo do pecado’ é a totalidade do pecado em sua energia dominante” (The Christian Friend, vol. 23, pág.
182). Assim, Paulo não está falando do corpo humano aqui.
A conclusão prática da morte
e ressurreição de Cristo, como aplicada aos crentes, é que os Cristãos
(caracteristicamente) acabaram
com a carne. Seu “batismo” significa
isso (vs. 12). Eles, portanto, rejeitam tudo a ver com a carne e agora vivem
para Deus como totalmente desconectados daquela velha ordem de vida. Aplicando
isto à situação que os colossenses estavam enfrentando, eles deveriam rejeitar
todo o esquema de ensino racionalista que estava sendo apresentado pelos falsos
mestres, porque era da carne – e tudo que tem a ver com a carne deve sair. da
vida do crente.
Vs. 13-15 – Paulo passa para
o que foi realizado em nós e para nós por meio da morte e
ressurreição de Cristo. Ele diz: “E vós,
estando mortos em ofensas e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou junto
com Ele, havendo nos perdoado todas as ofensas; havendo apagado o
manuscrito de ordenanças que permanecia diante de nós, o qual era contrário a
nós, Ele também o tirou do caminho, tendo-o pregado na cruz; havendo despojado
principados e ridades, Ele fez uma demonstração deles publicamente, levando-os
em triunfo por ela” (JND). Como mencionado, o crente foi “vivificado junto” com Cristo em uma
nova esfera de vida onde ele vive para Deus. (Veja também Ef 2:5). O versículo
13a refere-se aos crentes gentios. Isso é indicado pelas palavras “vós” e “vossa”, pois os colossenses eram uma companhia de gentios
convertidos; enquanto que o versículo 14 se refere aos crentes judeus. Isto é
indicado pela palavra “nós”. Paulo
estava falando com seus compatriotas, e assim ele se inclui. (Isso não é
incomum nos escritos de Paulo. Compare Ef 1:12-13, 2:1-3, 17, etc.)
Paulo se concentra em três coisas particulares que resultaram
da morte e ressurreição de Cristo:
A) No que diz respeito aos crentes, a obra de Cristo na cruz lançou
as bases para o seu perdão eterno. Assim, Paulo diz: “havendo nos perdoado todas as ofensas”. (O “nos” aqui se refere tanto aos judeus
quanto aos gentios.) O conhecimento desse grande fato purifica a consciência da
culpa e dá gozo ao crente. Ele menciona isso para mostrar que nesta nova esfera
de vida com Cristo ressuscitado, a questão dos pecados do crente nunca surgirá –
foi eternamente resolvida.
B) No que diz respeito às ordenanças legais no judaísmo a que
Israel estava vinculado, Paulo diz: “havendo
apagado o manuscrito de ordenanças que permanecia diante de nós” O “nós” aqui se refere aos crentes
judeus, pois o manuscrito de ordenanças nunca foi contra os gentios. Eles nunca
se colocam sob as obrigações legais do Velho Pacto. Nos dias de Moisés, Israel
colocou seu “manuscrito” (sua
assinatura, por assim dizer) nas obrigações da lei, declarando: “Todas as palavras que o Senhor tem falado faremos”
(Êx 24:3). Moisés ratificou seu compromisso com aquela aliança legal com o
sangue de um sacrifício, e assim eles estavam ligados a ela (Hb 9:18-21). A
história registra tristemente que eles falharam em guardar a lei em todos os
aspectos (At 7:53). Por isso, essas ordenanças “permaneciam” contra eles em um sentido acusatório.
No entanto, na obra consumada
de Cristo na cruz, Ele não só suportou a maldição da lei quebrada (Is 53:8b; Gl
3:13; Sl 88), mas Sua morte anulou as obrigações legais da lei sob as quais
Israel se colocara. Isso não significa que a lei tenha sido removida; ainda tem
sua aplicação a Israel em nível nacional e aos pecadores incrédulos (1 Tm 1:8-10).
A lei não está morta e foi-se; é o crente que está morto e foi-se – por meio de
sua identificação com a morte de Cristo (Rm 6:2-8). O crente no Senhor Jesus
Cristo está “morto para a lei” (Rm
7:4-6), e a lei não tem aplicação a um homem morto (Rm 7:1). Assim, todo o
sistema legal foi anulado para cada judeu que acredita em Cristo. A morte de
Cristo a “tirou do caminho” (a
obrigação, não a lei). Paulo, sendo um crente judeu, usa a palavra “nós” aqui para indicar de que ele e
seus compatriotas foram libertados. Ele acrescenta: “Pregando-o na cruz”. Isso se refere à acusação que permanecia
contra os judeus por falharem em guardar a lei. Foi cancelada e a declaração
desse fato foi exposta publicamente. É uma alusão ao costume romano de cravar
na cruz onde um criminoso morre, a declaração do seu crime, indicando a todos a
natureza da ofensa dessa pessoa. (Veja Jo 19:19-22.)
C) Em relação aos nossos inimigos espirituais – Paulo diz: “havendo despojado principados e
autoridades”. Isto se refere aos seres angélicos caídos (que foram enfileirados contra
Cristo) sendo completa e absolutamente derrotados. Eles tentaram desviar o
Senhor de fazer a vontade do Pai de Ele ir à cruz e beber o cálice do juízo.
Ele venceu as forças do mal pela simples obediência (Jo 18:11, 19:17). Cristo
agora está em total supremacia sobre esses inimigos espirituais, tendo obtido
uma vitória aberta sobre eles na cruz (Cl 2:15) e na sepultura (Hb 2:14).
Embora derrotados, esses agentes malignos de Satanás ainda não estão no abismo,
e atualmente se opõem aos santos que vivem em comunhão com Deus na nova esfera
de vida na qual foram introduzidos por terem sido ressuscitados e vivificados juntamente com Cristo.
Esses inimigos se opõem à liberdade dos santos e ao gozo de sua porção em
Cristo nos lugares celestiais. Mas como o Senhor subjugou o poder deles, uma
provisão completa foi feita para nós na “armadura
de Deus” para que possamos viver em comunhão ininterrupta com Deus (Ef
6:10-18).
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