O Mistério
V. 25 – Paulo fala então de
seu segundo ministério. Ele diz que ele também era um “ministro, segundo a dispensação de Deus que me foi concedida”, a
qual, como dissemos, tem a ver com a revelação da verdade do “Mistério”. Paulo era o principal propagador
do Mistério. Outros “santos apóstolos e
profetas” tiveram esta grande verdade revelada a eles (Ef 3:5), mas Paulo
foi especialmente comissionado pelo Senhor “para
iluminar a todos com o conhecimento” do “Mistério” (Ef 3:9 – JND).
Como mencionado na
Introdução, o Mistério revela o grande propósito de Deus para glorificar Seu
Filho em duas esferas – nos céus e na
Terra – no mundo vindouro por meio de um vaso de testemunho especialmente
formado, a Igreja (Ef 1:8-9). O Velho Testamento claramente predizia um Messias
judaico reinando sobre toda a Terra com Israel e as nações gentias
regozijando-se submissas a Ele. Mas o Mistério revela algo mais. Quando Cristo
reinar, Ele terá um complemento celestial ao Seu lado – a Igreja, Seu corpo e
Sua noiva. Deus usará esse vaso especialmente formado para realçar a glória de
Cristo naquele dia de manifestação (Ap 21:9-22:5). Além disso, o Mistério
revela que Cristo não apenas reinará sobre a Terra, mas sobre todo o universo
(os céus e a Terra); tudo estará sob a administração de Cristo e da Igreja. (“o Cristo” Ef 1:10 – JND).
Também mencionadas na
Introdução estão as duas partes do
Mistério, apresentadas nas epístolas aos Efésios e aos Colossenses. Efésios enfatiza
o aspecto futuro quando o grande
propósito de Deus concernente a Cristo e à Igreja será trazida à manifestação
no mundo vindouro. Colossenses dá o aspecto presente
do Mistério, que tem a ver com as características de Cristo sendo desenvolvidas
na prática nos membros de Seu corpo, de modo que o mundo veria uma demonstração
viva da união de Cristo e da Igreja.
Paulo diz que trazer à luz
essa grande verdade seria “cumprir [completar - JND] a Palavra de Deus”. Assim, o Mistério é a culminante joia de Deus
que completa a revelação divina da verdade. Tendo divulgado esse segredo, agora
não resta mais verdade a ser revelada. “Todos
os tesouros da sabedoria e da ciência” são encontrados no Mistério, e todos
eles foram revelados aos santos (cap. 2:2-3). Completar a Palavra de Deus não
significa que Paulo foi o último a escrever as Escrituras inspiradas; sabemos
que ele não foi. O apóstolo João escreveu seu evangelho, suas epístolas e o
livro de Apocalipse alguns anos depois. No entanto, esses escritos não revelam
nenhuma nova verdade sobre a Igreja – que é o ponto de Paulo aqui. As epístolas
de João não consideram a verdade da Igreja, mas sim a família de Deus. Sua
Revelação (Apocalipse, em português) de Jesus Cristo tem muitas visões e
revelações relacionadas a eventos futuros, mas essas coisas são uma ampliação
de assuntos já revelados no Velho Testamento. Todos esses ensinamentos
proféticos não são novos assuntos da verdade.
V. 26 – Paulo então amplia o
fato de que a verdade no Mistério não
é uma extensão da verdade dada no Velho Testamento. Ele deixa claro que era
algo que estava “guardado em silêncio
durante os tempos eternos [os tempos dos séculos – JND]” (Rm 16:25; Ef 3:5)
e só agora, na presente dispensação da graça, “tem sido revelado aos Seus santos” (TB). Não é algo que os santos
do Velho Testamento pudessem conhecer. Era algo “oculto” (Rm 16:25) que não estava escondido no Velho Testamento
(como alguns pensavam), mas algo que estava “escondido em Deus” (Ef 3:9). Existem referências à Cristo e à
Igreja nos tipos do Velho Testamento, tais como: Adão e Eva (Gn 2), Isaque e
Rebeca (Gn 24), Jacó e Lia (Gn 29), José e Asenate (Gn 41), etc., mas estes não
ensinam a verdade da Igreja. Eles não revelam a natureza de sua união, etc.
Tudo isso requer uma revelação divina, que é o que o Mistério revela. Nós não
teríamos visto essas figuras no Velho Testamento se a verdade da Igreja não
tivesse sido revelada no Mistério do Novo Testamento.
V. 27 – Paulo então define a operação
prática da verdade do Mistério nos santos. Ele diz que é, “Cristo em vós, a esperança da glória” (ARA). Assim, o mistério
revela que Deus teria pessoas aqui agora neste mundo no mesmo lugar onde Cristo
foi expulso e crucificado, nos quais as características vivas de Sua Pessoa
seriam vista. Não é que Cristo habite pessoalmente naqueles que compõem esta
nova companhia (como comumente se pensa), mas que as características da vida de
Cristo são vistas neles. W. Kelly disse: “É a vida de Cristo em nós em seu completo caráter
ressuscitado de exibição” (Lectures
on Colossians, pág. 108). “Vós”,
sendo plural, mostra que é intenção de Deus que haja neste mundo uma reprodução
unificada de Cristo
nos santos. Ver os santos movendo-se juntos em feliz comunhão, mesmo que estejam
em diversas posições sociais, realizações intelectuais, distinções raciais,
etc., dá um forte testemunho sobre o que Deus está atualmente fazendo neste
mundo por meio do evangelho. A “esperança”
a que ele se refere aqui é a certeza adiada
de estarmos com Cristo em um estado glorificado.
Vs. 28 - Tendo falado do
Mistério em seu aspecto atual, Paulo diz: “quem
anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o
homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus
Cristo”. Vimos a partir disso que o objetivo de seu duplo ministério era
que as pessoas não somente teriam suas almas salvas eternamente por crerem no
evangelho, mas também que seguiriam depois que fossem salvas e alcançariam a
plena maturidade Cristã. “Perfeito”,
no sentido em que Paulo usa a palavra aqui, refere-se a isso. Significa “crescido completo” e pode ser traduzido como tal (1 Co 14:20; Fp 3:15).
Todos os Cristãos estão “em Cristo Jesus”
quanto à sua posição de aceitação diante de Deus em Cristo, o Homem ressurreto
e glorificado. Mas ser “perfeito em
Cristo Jesus” envolve conhecer a verdade do Mistério e procurar andar com
nossos companheiros
irmãos de tal maneira que haja uma demonstração viva de Cristo. Assim, Paulo
não estava interessado em simplesmente fazer com que pessoas ultrapassassem a
linha de salvação da alma e deixá-las ali para fazer seu próprio caminho nas
coisas divinas – ele trabalhou para estabelecê-las na verdade depois que elas
foram salvas. Assim, se os colossenses desejassem a perfeição Cristã, ela seria
encontrada na verdade revelada no Mistério, e não naquilo que os falsos mestres de sua área estavam propondo.
Observe a mudança do plural (“vós” – v. 27) para o singular (“todo homem” – v. 28). Isso porque,
quando se trata de crescimento e progresso nas coisas divinas, é uma coisa
individual. Não podemos crescer por outra pessoa e eles não podem crescer por
nós. Por parte do crente, o progresso espiritual requer obediência, diligência
e exercício de alma. Também é útil ter ajuda de instrutores com dons, como foi
o caso aqui com as instruções de Paulo.
V. 29 – Em vista de
apresentar a cada homem perfeito, Paulo diz: “E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que
obra [atua – ARA] em mim poderosamente”. O combate se
refere à guerra. Isso mostra que Paulo viu seus esforços como um conflito
espiritual. Ele entendeu claramente que o diabo e seus emissários estavam
trabalhando nos bastidores para resistir à propagação da verdade (2 Co 10:3-5;
1 Ts 2:18; Ef 6:11-13). No mundo vindouro, não haverá combate com esses
inimigos malignos para manifestar Cristo e da Igreja, porque todos eles estarão
confinados no abismo (Is 24:21-22; Ap. 20:1-2). Mas neste mundo hoje há uma indiscutível batalha
espiritual em relação à reprodução coletiva das características de Cristo nos
santos.
Cap. 2: 1 – Paulo sabia que
os santos daquela região estavam em uma condição perigosa e queria que eles
soubessem de sua preocupação. Ele disse: “Porque
quero que saibais quão grande combate tenho por vós, e pelos que estão em
Laodicéia”. A menção de “Laodiceia”
aqui e “Hierápolis” mais adiante na
epístola (cap. 4:13). nos diz que essas assembleias vizinhas também estavam em
perigo. Isso mostra que os esforços do inimigo são implacáveis. Se esses falsos
mestres não conseguissem a atenção dos colossenses, eles tentariam entrar em Laodiceia
ou em Hierápolis.
Vs. 2-3 – O grande desejo de
Paulo por eles era “para o fim de que
seus corações possam estar encorajados, estando unidos em amor, e para todas as
riquezas da plena certeza do entendimento, para o pleno conhecimento do
mistério de Deus. No qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento” (JND). Estar “unidos
em amor” era uma questão de seus “corações” serem elevados ao Senhor, e ter
“a plena certeza do entendimento” do
Mistério era um questão de suas mentes serem instruídas na verdade. Isso os
guarneceria contra os enganos do inimigo. Se esse estado existisse entre os colossenses,
seria difícil para o inimigo conseguir um espaço na assembleia. A “plena certeza” a que Paulo estava se
referindo não era a garantia da salvação de suas almas; isso eles já tinham.
Era que eles teriam plena certeza do fato de terem recebido “todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento” no Mistério. Saber disso os livraria da busca da verdade em
qualquer outro lugar, a não ser no Mistério. Assim, o conflito de Paulo na
oração era que eles estivessem em um estado espiritual correto para se
beneficiarem com a verdade.
Usando a tipologia na jornada
de Israel do Egito até Canaã, “os
tesouros da sabedoria e do conhecimento” de que Paulo fala aqui é o
antítipo da herança prometida de Israel (porção) em Canaã. Veja Efésios 1:3.
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