sexta-feira, 16 de novembro de 2018


Oração de Paulo

Vs. 9-14 – O relato de Epafras a respeito dos colossenses não apenas levou o apóstolo à ação de graças, mas também a fervorosa oração por eles. Tendo sido informado de seu estado, o apóstolo faz saber a eles que seus desejos eram para eles, reiterando ao escrever uma oração típica sua para eles. Talvez não haja maior serviço que possamos fazer pelos santos de Deus do que orar por eles. Paulo é um grande exemplo disso, como podemos ver o amplo espaço que ele dá à oração em suas epístolas. Epafras é outro exemplo (Cl 4:12). Este, obviamente, não deve ser o nosso único serviço para os santos, mas é onde o nosso serviço deve começar.
Em sua oração, Paulo enfatiza a profundidade e a abrangência de seus pedidos a respeito da verdade e de sua prática, usando repetidamente superlativos como: “cheios”, “toda” e “tudo”. A oração consiste em quatro pedidos principais:

1) Que eles possam ser “cheios do pleno conhecimento da Sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual” (v. 9). Como na epístola aos Efésios, a vontade de Deus é proeminente nesta epístola (Ef 1:1, 5, 9, 11, 5:17, 6:6; Cl 1:1, 9, 4:12). . Apesar disso, um aspecto diferente da vontade de Deus está em vista nesta epístola. Em Efésios, é “o Mistério da Sua vontade” (Ef 1:9), que tem a ver com o propósito de Deus de trazer Cristo e a Igreja em manifestação na dispensação da plenitude dos tempos no mundo vindouro (Ef 1:10, 2:7). Considerando que, em Colossenses, é a prática da vontade de Deus nos santos em conexão com a verdade do Mistério, para que houvesse uma manifestação presente de Cristo e da Igreja neste mundo (Cl 1:26-27).
Neste primeiro pedido de oração, Paulo menciona três coisas relacionadas ao aprendizado e à aplicação da grande verdade do Mistério: 
  • “Conhecimento” – Isso tem a ver com ter uma apreensão intelectual da verdade. Desde que as Escrituras do Novo Testamento foram escritas, onde o Mistério foi revelado, este conhecimento pode ser adquirido por meio de um estudo cuidadoso das epístolas – especialmente Efésios e Colossenses.
  • “Sabedoria” – Isso tem a ver com a aplicação do conhecimento do Mistério praticamente. Isso é amplamente adquirido por meio da oração.
  • “Entendimento espiritual” – Isso se refere a ter discernimento espiritual para discernir a mente de Deus revelada pelo Espírito Santo. É adquirido por meio da reflexão e meditação na presença do Senhor. 

Alguns resumiram essas três coisas como: (conhecimento) + “S” (sabedoria) = “E” (entendimento) – mas isso pode ser uma explicação excessivamente simplista de como essas coisas se interconectam umas com as outras.
O aspecto da vontade de Deus a que Paulo se refere no versículo 9 não é exatamente conhecer a mente do Senhor em assuntos práticos na vida cotidiana – ou seja, onde devemos morar, que tipo de emprego procurar, que casa ou carro comprar, etc. A oração de Paulo aqui tem a ver com os santos tendo um pleno entendimento da vontade de Deus a respeito da efetivação da verdade do Mistério. Se esses queridos santos colossenses entendessem isso, eles saberiam imediatamente que a mistura de filosofia, judaísmo e misticismo que estavam sendo propagados naquela região eram falsos. Assim, a maior salvaguarda contra o erro é um conhecimento íntimo da verdade. Então, quando o erro se apresenta, ele será facilmente identificado como tal e imediatamente rejeitado.

2) Para que possam “andar dignamente diante do Senhor, agradando-Lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no [verdadeiro – JND] conhecimento de Deus” (v. 10). Vemos disto que o segundo pedido de oração de Paulo pelos santos foi que ao serem cheios de conhecimento, sabedoria e entendimento, eles não usariam essas três coisas para competir com os filósofos de seus dias no palco do intelectualismo, mas sim, que eles iriam “andar” agradando ao Senhor.
Isso mostra que o motivo para aprender a verdade nunca é para alguém mostrar seu conhecimento. Aprender a verdade sempre tem em vista a sua colocação em prática em nossa vida. No entanto, isso não será possível sem que primeiro saibamos qual é a Sua vontade. Muito naturalmente, então, este segundo item na oração de Paulo provém do primeiro. O ponto chave aqui é que a verdade do Mistério deve governar nossa caminhada. Andar digno é mencionado pelo menos quatro vezes nas epístolas de Paulo: 
  • Andar “de uma maneira digna de Deus” (1 Ts 2:12 – ATB).
  • Andar “de uma maneira digna do Senhor” (Cl 1:10 – ATB).
  • Andar “duma maneira digna do evangelho” (Fp 1:27 – ATB).
  • Andar “uma maneira digna da vocação com que fostes chamados” (Ef 4:1 – ATB). 

A prática da verdade é tão importante quanto aprendê-la. Assim, o conhecimento da verdade deve resultar em “frutificando em toda a boa obra”. Ao andarmos na verdade do Mistério de acordo com a vontade de Deus, cresceremos “no verdadeiro conhecimento de Deus”. Isso equivale ao “entendimento” a que Paulo se referiu no versículo 9.

3) Que eles seriam “Corroborados em toda a fortaleza [poder – JND], segundo a força da Sua glória, em toda a paciência [perseverança – ARA], e longanimidade[1] com gozo”. Poderíamos supor que orar pelos santos para serem dotados de poder divino, como Paulo faz aqui, seria em vista deles realizando obras poderosas em serviço, como as registradas nos primeiros capítulos do livro de Atos. Mas não é assim; foi para dar-lhes força para resistir à oposição e à perseguição que certamente encontrariam ao colocar em prática a verdade do Mistério. Assim, Paulo orou para que eles tivessem paciência “perseverante e longânime”, porque precisariam dela vivendo em um mundo que é oposto a Cristo.
Isso mostra que, se andarmos na plena verdade revelada de Deus e exibirmos o caráter de Cristo em nossas vidas, isso atrairá o ódio do mundo. O mundo odeia a Cristo e, se exibirmos a Cristo, também nos odiará (Jo 15:18-20). O fortalecimento dos santos para esse tipo de oposição é, portanto, necessário. Por isso, Paulo ora para que os santos tenham “poder” de Deus, não para fazer alguma grande obra para Cristo, mas para sofrer por Cristo. Ele acrescenta que a nossa perseverança e longanimidade é para ser “com gozo”. Receber pacientemente a agressão do mundo é bom e aceitável (1 Pe 2:20), mas suportá-la com gozo é melhor. Isso faz com que o nosso rosto brilhe (1 Pe 4:14), e isso produz um poderoso testemunho para todos. Um mártir Cristão morrendo em chamas, e fazendo isso com alegria, é uma manifestação desse tipo de força divina.

4) Que eles fossem enchidos com o espírito de ação de graças e louvor. Paulo diz: “Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança [compartilhar a porção – JND] dos santos na luz; O Qual nos tirou da potestade (poder) das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor; Em Quem temos a redenção pelo Seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” (vs. 12-14). Assim, ele orou para que os santos fossem encontrados em um espírito de gratidão pela presente “porção” na qual eles haviam sido trazidos pela graça. Ele menciona “o Pai”, que é a Fonte de todas as bênçãos; e “o Filho do Seu amor”, que é o canal pelo qual a bênção chegou até nós; e um “reino” no qual fomos trazidos e que é governado pela “luz” e “amor” divinos. Que lugar maravilhoso para se estar! Isso certamente demanda ações de graça e louvor.
Entramos no reino pelo novo nascimento (Jo 3:5), mas o novo nascimento em si não nos torna “adequados” para essa porção abençoada em Cristo. Nós precisamos de algo mais; precisamos estar descansando por fé na obra consumada de Cristo e selados com o Espírito Santo (Ef 1:13). Isso nos leva à nossa plena posição Cristã diante de Deus (Rm 8:9). J. N. Darby disse: “Assim somos ensinados nesse versículo [12] de Colossenses 1, ‘Dando graças ao Pai que nos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz’. Um homem nascido de novo não o faz adequado; ser vivificado faz com que ele sinta a necessidade disso; há outra coisa necessária que o torna adequado à glória, e essa é a obra de Cristo em graça” (Collected Writings, vol. 21, pág. 193).
A “porção” a que Paulo se refere aqui é todo o escopo de nossas bênçãos celestiais em Cristo. É uma herança de coisas espirituais, enquanto que em Efésios 1, a herança são coisas materiais desta criação nos céus e na Terra (Ef 1:11, 14, 18). Assim, há dois aspectos para a herança Cristã no Novo Testamento. Atos 26:18, Cl 1:12 e 1 Pedro 1:4 referem-se ao lado espiritual em Cristo “no céu”. J. N. Darby falou deste aspecto da herança como sendo “sobre nossas cabeças” (nos lugares celestiais), porque essas referências veem o crente como um peregrino trilhando o caminho da fé na Terra. Em contraste com isso, o Sr. Darby falou do aspecto de Efésios como algo que se estende “sob nossos pés”. Isso porque, nessa epístola, o crente é visto como sentado em lugares celestiais em Cristo (Ef 2:6) e tudo no universo está sob ele – até mesmo os seres angélicos (Ef 1:20-21). O Sr. Darby distinguiu esses dois aspectos da seguinte forma: “A herança é a herança de todas as coisas que Cristo criou. Mas em 1 Pedro, ou em Colossenses 1, a coisa está no céu “(Notes and Jottings, pág. 101). Para ajudar a distinguir estas duas coisas, a sua tradução da Bíblia traduz o lado espiritual como “porção” e o lado material como “herança”.
Para que nos tornássemos aptos para essa grande bênção, a libertação tinha que nos alcançar. As garras de Satanás sobre as almas perdidas são referidas aqui como “o poder das trevas” (Lc 22:53; At 26:18; Ef 6:12). Mas o grande poder e graça de Deus nos “libertou” (ARA) disso e nos “transportou” para “o reino do Filho do Seu amor”. Há pelo menos dez aspectos diferentes do reino mencionados nas Escrituras. Nesta passagem, tem a ver com o fato de estarmos em uma esfera de privilégio na qual vivemos em comunhão com o Pai e o Filho, e desfrutamos de Suas afeições. Assim, neste reino, somos amados por Deus tanto quanto Ele ama Seu próprio Filho! (Jo 17:23)
É no Filho do Seu amor que temos a nossa “redenção”. Para que nos tornássemos aptos para este reino, um “resgate” tinha que ser pago, e isto foi feito na obra consumada de Cristo na cruz (Mt 20:28; 1 Tm 2:6). A redenção significa que o crente foi “comprado” para Deus e “libertado” das consequências de seus pecados, do poder do pecado e de Satanás. Por isso, Paulo acrescenta: “a saber, a remissão (perdão) dos pecados”. Isso significa que uma liberação total do julgamento eterno de nossos pecados nos foi concedido! A expressão “pelo Seu sangue”, encontrada nas KJV, ARC e ARF tem pouca autoridade em manuscritos e, na verdade, não deveria estar no texto porque a ênfase na passagem está na Pessoa que realizou a obra, e não na grandeza da obra – que virá mais tarde no capítulo.


[1] Disposição natural do ânimo para suportar com serenidade e resignação as contrariedades, insultos, vexames e ofensas


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